Ainda bem que fui dispensado de um jantar em casa de uma tia...acabei por ir ao cinema ver a estreia do filme do Dieguito..."Maradona by Kusturica".
Depois de uma branca que me impediu de descortinar onde raio era a Avenida de Roma (obrigado my friend) e de termos uma sorte daquelas ao dar logo com o cinema ( com o seu micro parque de estacionamento), eu e o meu afilhado assistimos a um belo filme/documentário...
Seguia com algum interesse a estreia deste filme, para além de sempre ter idolatrado Maradona como jogador, o realizador também fazia parte do meu gosto..o grande Kusturica (muitas vezes me lembro do "Gato preto, Gato branco")...logo, juntou-se o útil ao agradável.
Meus amigos, está bom....está muito bom...é relatada toda a carreira do Dieguito, os episódios marcantes, os grandes golos, as grandes jogadas, toda a maluquice (e não é pouca) à volta do jogador e do homem, as suas intervenções políticas e opiniões, os dramas do álcool e da droga, o cair e levantar do astro...e até a sua igreja...
Esta ultima é um caso alucinante...existe mesmo a "religião Maradona", adorada e idolatrada na igreja maradoniana...com missas, rezas, cantigos, celebrações de casamentos e baptizados...fantástico...Além de que divide os tempos em A.D. e D.D., antes e depois de Diego!!
Conto aqui o episódio de um baptismo de um crente e novo discípulo da igreja: Ora bem, o ritual passa por "reviver" o famoso lance do golo de Maradona com a mão à Inglaterra no Mundial de 1986...golo e vitória marcante para a vida de todos os argentinos devido à luta nas Málvinas e afins...e é isso mesmo meus amigos, o pastor da igreja lança a bola para junto da pequena área e o novo discípulo ganha com a mão esquerda a bola ao guarda-redes, fazendo golo...corre para o pastor, ajoelha-se e é-lhe dada a graça da "Mão de Deus"...não é brilhante ???
O documentário tem alturas marcantes, fiquei impressionado numa recepção feita ao Dieguito em Nápoles...a quantidade de pessoas e o modo como todas elas estavam alteradas (cocaina?), à saida do hotel devoraram completamente Maradona, que no meio de empurrões, socos e afins lá conseguiu entrar numa carrinha...carrinha essa que foi parada dezenas de vezes pela população em delírio, batiam nos vidros, gritavam, queriam ver e tocar o "Deus"...lá de dentro Maradona também batia nos vidros e gritava...asneiras...Lindo!!
Maradona não tem a noção do que representa para o Mundo, tem a noção sim do que ele representa, do exemplo que a sua vida tem de ser para os outros, a fase negativa tem de ser um exemplo a não seguir para os mais novos...ficou-me na retina uma frase, uma frase de alguém que não quer estar no pedestal onde o colocaram : " Há um Deus e não sou eu", por outro lado alimenta essa ideia :"As pessoas têm fé em mim e talvez acreditem que sou Deus… não as vou contradizer." Conta ainda uma situação curiosa que reflecte a ideia que as pessoas têm dele: "Estava num avião e havia muita turbulência. Vendo que a minha filha estava com medo, um outro passageiro veio dizer-lhe para estar sossegada, porque Deus estava connosco...". É Maradona e pronto.
Conversas sérias com Kusturica sobre os mais variados assuntos, o regresso à casa dos pais onde não ia há 15 anos, a viagem à Sérvia (onde o filho do Kusturica veste pela primeira vez na vida uma camisa, porque tem que estar bem para receber um deus...) e onde Maradona acena às pessoas no carro, lhes deseja um bom-dia quando param nos semáforos, os dotes de cantor de Diego e as músicas que são feitas para ele...tudo imagens que ainda agora me estão na cabeça...
Maradona foi grande...mas tal como ele diz perto do final...imaginam como teria sido ainda maior se não fosse a droga?? Nem ele sabe...
Fica a oração de Maradona...quem for crente que a aproveite..
Padre Nuestro (y es nuestro de verdad)
Diego nuestro que estas en la tierra,
santificada sea tu zurda,
Venga a nosotros tu magia,
háganse tus goles recordar,
así en la tierra como en el cielo.
Danos hoy una alegría en este día,
y perdona aquellos periodistas
así como nosotros perdonamos a la mafia napolitana.
No nos dejes manchar la pelota
y líbranos de Havelange..
Diego.
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